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No dia da mentira, quais verdades foram usadas para garantir o golpe de 64?

Os dias que antecederam este mesmo 1º de Abril, mas em 1964, possuem curiosas semelhanças com este ano de 2016. A mesma atmosfera de intolerância, pressões e disputas políticas, forças militares nas ruas, justiça seletiva e até manobras no Congresso Nacional, tudo isso parece recente - e poderia até ser usado para resumir o momento no qual vivemos hoje - , mas estamos falando de 52 anos antes, o ano do golpe militar.


Mas tratemos das semelhanças (independente de sua leitura política de hoje, se concentre nelas):


- Um presidente não associado às forças militares foi eleito pela maioria dos votos.

- Houve IMEDIATA insatisfação de partidos conservadores de direita.

- Parlamentares e Militares passaram a ser publicamente INVESTIGADOS.

- Medidas econômicas que privilegiavam as classes menos favorecidas foram ostensivamente reprovadas pela oposição do governo.

- Manobras políticas foram realizadas pelo Congresso Nacional que interviu diretamente no mandato presidencial, anulando o presidencialismo.

- Houve uma crise financeira, um desarranjo na situação brasileira; Novas medidas econômicas causaram insatisfação política e a situação só foi piorando...

- A imprensa personificou os problemas nacionais visando afetar o presidente e fazia constantes ataques, noticiando crises, sensacionalizando o banal e criando inúmeras contestações para separar o vilão e selecionar os futuros heróis.

- Líderes da religião mais popular nas camadas pobres declararam abertamente seu apoio à partidos da oposição.

- Forças militares reprimiram manifestações de apoio à democracia enquanto permitiam outros manifestos que atendiam a seus interesses políticos.

- O presidente na época fora acusado de comunista; “vermelho” e “esquerda” viraram uma simbologia da nova ameaça do país.


Estes fatos corroboraram para a criação de um clima de instabilidade, de confuso juízo de valores, de terror perante ao futuro. Tal qual agora.

Surgiu então uma ideia do silêncio... uma certa insegurança que pedia por proteção. A ideia não se sabe de onde veio, mas “a proteção” sim.




No dia 31/03 - 01/04, os militares interviram na política (Eis a proteção). E com o apoio de grande parte do empresariado, da imprensa, das elites econômicas, dos latifundiários, da Igreja católica e de vários governadores de estados importantes, deram um golpe militar-burguês no Brasil (Eis os protegidos).


Período em que as ideias corriam livres nas cabeças, mas evitavam alcançar a boca.

Ideias de voz abafada e repreendidas de imediato, onde não havia espaço para sussurros.

Época em que se abririam futuras vagas de emprego para torturadores, em que o olhar acompanhava qualquer mudança de perto, em que gritos e urros de dor fizeram-se necessários para extinguir questionamentos subversivos.


A voz que questionava antes ainda ecoa. Os dias que antecederam o golpe de 64 possuem uma atmosfera muito próxima da que vivemos hoje.


Mas ainda mais importante do que as semelhanças, são as MUDANÇAS entre 2016 e 1964.


Hoje é possível inclusive fazer protestos contra uma presidenta - que fora torturada pela ditadura - e pedir abertamente uma intervenção militar.

Em 52 anos os papéis se inverteram consideravelmente. Hoje uma representante daquela voz esmagada pelas décadas de 60 a 80 assiste a protestos democráticos idealizados pelos netos dos antigos representantes da direita e o apoio ao militarismo.


Dentre esta confusão que nos ronda, dentro desta inversão histórica de poderes, existem os temerosos de que os direitos mais básicos - como pensar, discordar e discutir - não possam ser mais exercidos. Mas um medo que não acovarda, pois há também os netos dos torturados, dos silenciados e dos exilados. Há um grito de luta selvagem que insiste na democracia, que diz não a um futuro golpe arquitetado pelas mesmas forças de outrora.


Hoje é possível que você veja a mesma notícia por diversas vias, que ouça mais do que uma opnião e que construa a própria. Essa diferença gritante é extremamente necessária em tempos que televisores permanecem ligados em todas as casas, atentos e ininterruptos, prontos para nos dizer o que pensar e com o quê se preocupar.


A praça da Sé, que já fora palco de tantos momentos políticos, novamente viu "que um filho teu não foge à luta”, mas desta vez, uma luta que com outro lema, um que se distancie cada vez mais do já conhecido “Ordem e Progresso”.


Fotos de Gabriel Vasconcelos ("Ato em favor da Democracia" - 31/03/2016 - Praça da Sé / SP )



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