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Reintegração de Posse na Comunidade Masterbus


Em fevereiro tem carnaval pra uns e desapropriação para outros. De lei.

No começo deste mês festivo, 830 famílias foram avisadas sobre uma reintegração de posse que pretende despejar seus corpos e pertences de um terreno na periferia da Zona Leste de São Paulo, localizado na Rua Manoel Ferreira Pires, 560, no Jardim Colorado. A retomada da propriedade, que está prevista para o dia 23 de fevereiro, às 6 horas da matina, segue nebulosa na cabeça dos moradores da Ocupação Masterbus e na de quem mais tenta entender a história daquele chão.

Histórico do Terreno

O terreno, que estava ocioso até 2014, já foi cenário de vários rolês errados, entre eles a garagem de caminhão de lixo da empresa Vegas Sopave [empresa do grupo OAS], depois passou a ser garagem de ônibus da Empresa Masterbus que faliu e perdeu as posses da propriedade para o banco Santander, que só tomou o terreno nos papéis e o deixou parado, sem função social. Nesse meio tempo há rumores de que o Santander também abandonou os tributos totais da propriedade e que por esse motivo teria perdido a propriedade para a Prefeitura de São Paulo. Sem nenhum documento público sobre o desmembramento do terreno, a Prefeitura na gestão Kassab construiu em uma parte dos 33mil m² de terra o CEU Vila Formosa e doou outra parte para o Governo do Estado de São Paulo construir a ETEC Prof. Adhemar Batista Heméritas. Contudo, ainda sobrou terreno abandonado que passou a ser utilizado como depósito de lixos, acolhida para dependentes químicos e abrigo de pragas urbanas.

Aí a gente se pergunta:

Se os 33mil m² de propriedade não foram desmembrados e o terreno é parte da Prefeitura e parte do Estado, por que a reintegração de posse está sendo movida por uma empresa privada de condinome “ISI Participações”?

Qual é o grupo de empresários que se interessaria por um terreno que já sofreu reintegração de posse do Estado e está parcialmente ocupado por pessoas que trazem à tona a demanda de moradia da região Vila Formosa, Carrão e Aricanduva?

Com mais dúvidas do que certezas, os moradores seguem ameaçados por uma ordem judicial que os marginalizam e coloca em risco a vida de mais de 400 crianças que também residem no local.

‘Nois por Nois’

A Masterbus é composta, em sua maioria, por famílias de trabalhadoras e trabalhadores que foram despejadas de casas alugadas por não terem renda compativeis aos ajustes sofridos pela chegada da especulação imobiliária à Vila Formosa e região. Segundo Durval, um dos moradores mais antigos da ocupa, cerca de 90% dos moradores têm renda total equivalente a R$600,00 o que não paga nenhum cômodo de aluguel no bairro em que estão inseridos.

Muitos dependem de auxílios externos e da rede de colaboração que se formou dentro da Comunidade Masterbus para a divisão de alimentos básicos, manutenção das redes elétricas, entre outras demandas que são supridas graças a solidariedade e autonomia dos membros da ocupação que praticam um modelo de sobrevivência típico das realidades invisíveis, o “nois por nois”.

Em 2015, ainda no modo quebrada, o seu João, ex-morador da Masterbus, organizou uma oficina de panificação que resultou na padaria da Celina, mulher e mãe de 4 crianças, que vende 3 pães por R$1,00, fortalece a renda de casa e ajuda a vizinhança a fugir dos preços abusivos dos outros estabelecimentos, pois a padaria mais próxima, que fica a cerca de 1km, é uma das mais caras na região, onde cada pão custa R$1,00.

O Coletivo Estação SP também chegou por lá e lançou uma galeria de graffiti a céu aberto, com o propósito de ressignificar o espaço, visibilizar a arte periférica e embelezar a quebrada que também já foi palco de incêndio criminoso e higienista contra os dependentes químicos anos atrás.

Entre ganhos e perdas, os moradores da ocupação Masterbus seguem dando uma função social para aquele monte de terra da propriedade privada que tem obra pública de um governo que é para todos, só que de maneira seletiva.

Final de Semana de Resistência e Cultura na Comunidade Masterbus

Neste final de semana (20 e 21/02), na luta contra a reintegração, a comunidade se organiza para realizar um Sarau com oficinas, rodas de conversas e confecção de zines para registrar e expor que a Masterbus resiste em meio à gentrificação dos bairros apropriados pelo raio gourmetizador que cala e invisibiliza a necessidade de moradia das trabalhadoras e trabalhadores da Zona Leste.

Para mais Infromações sobre o evento: Clique Aqui.

Galeria de Fotos da comunidade: Clique aqui

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